Avaliações formativas: o que são e 10 exemplos de uso
- Jeferson Costa
- Mar 22
- 8 min read
Updated: Apr 1
Resumo: As avaliações formativas são uma ferramenta poderosa para transformar o processo de ensino-aprendizagem. Elas permitem que os professores acompanhem o progresso dos alunos de forma mais próxima e personalizada, enquanto os estudantes desenvolvem autonomia e consciência sobre seu próprio aprendizado. No ensino fundamental e médio, onde as bases para a formação integral dos indivíduos são construídas, essa prática se torna ainda mais relevante. Portanto, investir em avaliações formativas não é apenas uma questão de metodologia, mas sim de compromisso com uma educação mais inclusiva, eficaz e significativa.
No cenário educacional contemporâneo, as avaliações formativas têm ganhado destaque nos últimos anos como uma prática pedagógica fundamental para o desenvolvimento integral dos estudantes. Apesar do nome poder parecer estranho, elas sempre foram utilizadas, mas nem sempre de maneira bem planejada e estruturada.
Nesse artigo, vamos:
Explicar o que são as avaliações formativas
Avaliar os benefícios e desafios das avaliações formativas
Listar os tipos de avaliações formativas
Explicar a relação entre tecnologia e avaliações formativas
O que são as avaliações formativas?
Para entender o que são as avaliações formativas, precisamos primeiro falar das avaliações no processo de ensino-aprendizagem como um todo.
Considere, por exemplo, uma unidade de uma disciplina. Ela tem um objetivo de aprendizagem e conteúdos que serão trabalhados. No começo do processo, a turma não domina o assunto, ao longo do processo ela assimila os conceitos e aprende as habilidades necessárias e, ao final, ela deveria conseguir realizar as atividades propostas de maneira satisfatória.
As avaliações entram para nos ajudar a acompanhar essa evolução. São três modelos avaliativos utilizados ao longo do processo, que são:
MODELO AVALIATIVO | DESCRIÇÃO | EXEMPLO |
Diagnóstico | Serve para identificar o conhecimento prévio dos alunos, suas habilidades, dificuldades e necessidades antes de iniciar um novo conteúdo ou unidade de ensino. É aplicado sempre no começo do processo e orienta o planejamento do professor. |
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Formativo | Serve para acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos durante o desenvolvimento das atividades, fornecendo feedbacks constantes para melhorar o desempenho. Orienta o professor nos eventuais ajustes do planejamento. |
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Somativo | Serve para verificar o que os alunos aprenderam ao final de um período, unidade ou curso, geralmente atribuindo notas ou conceitos. Orienta o professor na classificação de desempenho dos alunos. |
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Ou seja, as avaliações formativas são estratégias de avaliação que ocorrem durante o processo de ensino e aprendizagem, com o objetivo principal de fornecer feedbacks constantes tanto para os alunos quanto para os professores. Esses feedbacks permitem que os estudantes compreendam onde estão acertando e onde precisam melhorar, enquanto os professores podem ajustar suas práticas pedagógicas de acordo com as necessidades identificadas.
Antes de seguir... Você sabe o que é o "FEEDBACK"?
As avaliações formativas servem como fonte de feedback para os alunos. Mas o que é esse feedback? Podemos defini-lo como "a informação fornecida por algum agente a respeito dos aspectos de performance ou entendimento de uma pessoa" (Hattie & Timperley, 2007). O objetivo deles é o de reduzir o espaço (gap, em inglês) entre o conhecimento atual e o conhecimento desejado.
Há três formatos mais comuns de feedbacks, que são:
Conhecimento dos resultados (KR, em inglês): fornecimento da informação se o estudante acertou ou não uma resposta;
Conhecimento da resposta correta (KCR, em inglês): vai além de indicar se acertou ou errou, mas também indica para o aluno qual a resposta ou solução correta;
Feedback elaborado (EF, em inglês): casos onde o feedback vai além, explicando, por exemplo, porque a resposta correta é correta. Há uma diversidade grande de feedbacks nesse formato, dos mais simples aos mais complexos (por exemplo, um que indica porque as alternativas incorretas estão incorretas e indica materiais de estudo).
Há três características fundamentais das avaliações formativas (Greenstein, 2010), que são:
São focadas no estudante: as avaliações formativas não abordam como os professores lecionam, mas sim o quanto os alunos estão entendendo. Ao avaliar os dados delas, os professores podem compreender o progresso dos estudantes, tanto individualmente quanto coletivamente. Do lado do estudante, ela demonstra de forma objetiva o progresso na sua jornada e quais pontos precisa melhorar, dando mais autonomia e confiança.
Orientam a prática pedagógica: os resultados das avaliações formativas indicam a eficácia do planejamento pedagógico. Os professores podem utilizar esses resultados para revisitar o planejamento de conteúdos e ajustar para melhorar a aprendizagem.
Baseadas em resultados esperados: elas devem permitir que os estudantes foquem num objetivo que esteja previamente combinado. Para isso, deve-se ter alguns cuidados:
Os estudantes precisam saber os critérios de sucesso que demonstram o alcance dos objetivos de aprendizagem (que precisam estar claros para eles);
Professores fornecem feedback constante sobre o progresso deles, indicando seus pontos fortes e fracos e os orientando para o alcance dos objetivos de aprendizagem;
O desempenho é avaliado principalmente pela qualidade em relação aos objetivos, não por esforço ou comportamento.
Benefícios e desafios das avaliações formativas
O primeiro benefício das avaliações formativas está na melhoria dos resultados de aprendizagem. Há um vasto volume de evidências que suportam esse efeito, como demonstrado por Black & William (2010). Eles demonstraram que o uso de avaliações formativas melhora as notas dos alunos em qualquer série. Os dados mostram que essa melhora é significativa: um avanço equivalente a saltar da posição média da turma para uma posição entre os melhores 35%.
Outro aspecto relevante das avaliações formativas é que elas promovem a autonomia dos alunos. Ao refletirem sobre seus próprios processos de aprendizagem, os estudantes desenvolvem habilidades metacognitivas, ou seja, a capacidade de pensar sobre o próprio pensamento. Isso os torna mais conscientes de suas estratégias de estudo, de suas dificuldades e de como podem superá-las.
Para os professores, as avaliações formativas também trazem benefícios significativos. Elas permitem que o educador tenha uma visão mais clara e detalhada do progresso de cada aluno, o que facilita a personalização do ensino. Em turmas heterogêneas, onde os níveis de conhecimento e as necessidades dos estudantes podem variar bastante, essa personalização é essencial para garantir que todos tenham oportunidades equitativas de aprendizagem.
Além disso, as avaliações formativas incentivam os professores a adotarem uma postura reflexiva sobre sua própria prática, buscando constantemente melhorar suas estratégias de ensino.
No entanto, para que as avaliações formativas cumpram seu papel de forma efetiva, é necessário que os professores estejam preparados para implementá-las. Isso envolve não apenas o domínio de técnicas e instrumentos de avaliação, mas também a criação de um ambiente de confiança e colaboração em sala de aula. Os alunos precisam se sentir seguros para expressar suas dúvidas e dificuldades, sem medo de serem julgados ou penalizados. O feedback, por sua vez, deve ser sempre construtivo, destacando os pontos fortes e sugerindo caminhos para a melhoria.
Como utilizar as avaliações formativas?
Há uma grande diversidade de técnicas que podem ser utilizadas para as avaliações formativas (e que falaremos a seguir), mas em geral uma aplicação eficiente de avaliações formativas deve responder quatro perguntas (aparentemente) simples para os alunos (adaptação de Moss & Brookhart, 2009):
O que eu sei do assunto?
Para onde estou indo?
Como estou me saindo?
Quais estratégias podem me ajudar a chegar lá?
A seguir, abordamos rapidamente cada uma delas.
1. O que eu sei do assunto?
Essa é uma pergunta que está envolvida com a avaliação diagnóstica da turma sobre o assunto a ser abordado. Apesar de não ser uma avaliação formativa propriamente dita, a compreensão do conhecimento inicial da turma é essencial para avaliar como está o desenvolvimento dela. Esse é um ótimo momento para avaliar eventuais predisposições, valores, crenças e confusões da turma a respeito do tema, podendo fornecer um insumo muito importante para o planejamento docente (Greenstein, 2010).
2. Para onde estou indo?
Esse é um momento muito importante, porém pouco utilizado pelos professores. Aqui é a hora onde o professor compartilha com a turma os objetivos de aprendizagem e os critérios que vão indicar se o aluno conseguiu alcançá-lo ou não (Moss & Brookhart, 2009). Por exemplo, o objetivo de uma aula de português pode ser o de "Identificar o tema central de textos informativos". O professor deve, então, previamente ao início da aula, combinar com os alunos o que realmente significa esse objetivo (não basta eles repetirem o objetivo, eles precisam entender).
3. Como estou me saindo?
Aqui é onde entram as avaliações formativas propriamente ditas. Elas devem ser planejadas de maneira que elas efetivamente avaliem o alcance do objetivo de aprendizagem apresentado para a turma. De maneira geral, elas devem permitir que os alunos pensem "Se eu consigo fazer essa atividade, eu consigo [objetivo de aprendizagem]" (Moss & Brookhart, 2009).
4. Quais estratégias podem me ajudar a chegar lá?
A partir do resultado observado nas avaliações formativas, cabe ao professor apoiar o aluno no planejamento de estratégias que podem ajudá-lo a corrigir a rota e alcançar o objetivo de aprendizagem proposto. As estratégias podem variar a depender do caso, como corrigir os erros e confusões do aluno, apresentar o conteúdo de uma maneira diferente ou sugerir uma tutoria de outro aluno.
Exemplos de avaliações formativas
Agora que entendemos o que são as avaliações formativas, podemos falar sobre algumas delas.
TIPO | DESCRIÇÃO |
Perguntas e respostas durante a aula | Modelo onde o professor faz perguntas aos alunos para verificar a compreensão do conteúdo em tempo real. Exemplo: perguntar sobre a resolução de uma equação matemática após a explicação. |
Diários de aprendizagem | Nesse tipo, os alunos registram reflexões sobre o que aprenderam, suas dúvidas e dificuldades. Exemplo: escrever sobre o entendimento do processo de fotossíntese em uma aula de ciências. |
Mapas mentais | Casos onde os alunos criam representações visuais para organizar ideias e conceitos. Exemplo: elaborar um mapa mental sobre as causas da Primeira Guerra Mundial. |
Atividades em grupo | Realização de trabalhos colaborativos que permitem ao professor observar a interação e a compreensão dos alunos. Exemplo: analisar um texto literário em grupo e apresentar interpretações. |
Quizzes | Testes curtos e informais para verificar a compreensão dos alunos. Exemplo: quiz sobre características climáticas em uma aula de geografia. |
Autoavaliação e avaliação entre pares | Os alunos refletem sobre seu próprio desempenho e avaliam os colegas. Exemplo: avaliar apresentações orais com base em critérios predefinidos. |
Portfólios | Coleção de trabalhos que mostram a evolução do aluno ao longo do tempo. Exemplo:portfólio de desenhos e pinturas em uma disciplina de artes. |
Debates e discussões | Discussões em sala para desenvolver argumentação e pensamento crítico. Exemplo: debate sobre ética e moral em uma aula de filosofia. |
Tarefas com feedback imediato | Atividades que fornecem correções instantâneas, como exercícios online. Exemplo: praticar vocabulário de inglês em um aplicativo com correção automática. |
Observação e registro | O professor observa e anota o comportamento e o desempenho dos alunos durante as atividades. Exemplo: observar como os alunos lidam com materiais em um laboratório de química. |
Esses exemplos mostram que as avaliações formativas são versáteis e podem ser adaptadas a diferentes contextos e disciplinas. O importante é que elas sejam utilizadas de forma intencional, com o objetivo de fornecer informações úteis para o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem. Ao incorporar essas práticas em sua rotina, os professores podem criar um ambiente de aprendizagem mais dinâmico, inclusivo e eficaz.
Referências:
Black & William, 2010. Inside the Black Box: Raising Standards Through Classroom Assessment. Kappan, Vol. 92, No 1, pp 81-90.
Duss, 2020. Formative Assessment and Feedback Tool: Design and Evaluation of a Web-based Application to Foster Student Performance. Springer Gabler, Basel.
Greenstein, 2010. What teachers REALLY need to know about Formative Assessment. ASCD, Alexandria.
Hattie & Timperley, 2007. The Power of Feedback. Review of Educacional Reseach, Vol. 77, No. 1, pp. 81-112.
Moss & Brookhart, 2009. Advancing Formative Assessment in Every Classroom: A Guide for Instructional Leaders. ASCD, Alexandria.
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