Aprendizagem baseada em projetos (ABPj): o que é e como utilizar na sala de aula
- Jeferson Costa
- Mar 26
- 8 min read
Updated: Apr 14
Resumo: A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABPj) é uma metodologia poderosa para transformar a educação, tornando-a mais relevante e participativa. No entanto, sua implementação exige o cumprimento de algumas etapas específicas, a fim de garantir o resultado final esperado. É preciso também o treinamento e adaptação tanto de professores quanto de alunos. Quando bem aplicada, a ABPj não só melhora o desempenho acadêmico, mas também forma cidadãos críticos, criativos e preparados para os desafios do século XXI.

A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABPj) é uma metodologia ativa que tem ganhado destaque no cenário educacional por promover um ensino mais dinâmico, colaborativo e significativo, além de desenvolver habilidades essenciais nos alunos. Mas o que é a ABPj e como aplicá-la?
Este texto tem como objetivos:
Explicar o que é a ABPj
Demonstrar como a ABPj deve ser aplicada
Apresentar os benefícios e limitações da metodologia
Falar sobre os desafios enfrentados na sua implementação
O que é a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABPj)?
A ABPj é uma abordagem pedagógica em que os estudantes aprendem por meio da investigação e da elaboração de projetos que estão relacionados a questões do mundo real. O objetivo com essa metodologia é o desenvolvimento de uma entrega final concreta, que pode ser um produto, uma apresentação, uma campanha, ou qualquer outro resultado tangível.
Como toda metodologia ativa, a ABP coloca o aluno no centro do processo de aprendizagem, incentivando a autonomia, o trabalho em equipe e a aplicação prática do conhecimento.
Uma observação: ensinar usando projetos NÃO é o mesmo que Aprendizagem Baseada em Projetos (ABPj)
Vale ressaltar aqui que existe uma diferença importante entre utilizar projetos nas disciplinas e utilizar a metodologia da ABPj. A ABPj é algo muito mais estruturado do que simplesmente colocar um projeto em uma disciplina. Algumas diferenças importantes são:
USO DE PROJETOS NAS DISCIPLINAS | ADOÇÃO DA ABPj |
Suplementa o conteúdo da unidade de uma disciplina | O projeto é é a unidade, ou o principal meio para ensinar o conteúdo dentro de uma disciplina |
As tarefas se baseiam em seguir as orientações do professor | As tarefas são abertas e envolvem a voz e a escolha dos estudantes |
Tipicamente feita individualmente | Feita obrigatoriamente em colaboração com um time |
Foca num produto específico | O projeto inclui um processo de investigação de um problema e a criação do produto |
Feita de forma externa à sala de aula e de maneira independente do professor | É feita em sala de aula e com a condução do professor |
Muitas vezes não tem relação com o mundo real dos alunos | Parte de uma demanda real para os alunos |
Assim, percebemos que adotar a ABPj exige mais do que simplesmente criar um projeto e pedir um produto, ela demanda o cumprimento de uma série de etapas, que falaremos a seguir.
Como implementar a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABPj)
A ABP é dividida em 5 etapas (Larmer et al., 2015), que são:

Desenho do projeto
Etapa de responsabilidade do docente e tem como objetivo fazer um planejamento geral do projeto.
O professor deve considerar o contexto do projeto (o tipo de projeto, os estudantes envolvidos, o momento de aplicação, a duração, a complexidade e o envolvimento de outros professores e matérias)
O professor deve gerar a ideia central do projeto, podendo adatpar o de outros projetos ou pensar numa ideia original. O importante é que ela seja importante no contexto dos alunos.
O professor deve definir as diretrizes gerais do projeto, que são: os objetivos de aprendizagem; os tipos de produtos a serem gerados; produtos que devem ser apresentados ao público e a questão orientadora.
Lançamento do projeto
O projeto deve ser lançado utilizando a apresentação de um evento gatilho (entry event, em inglês) para a turma. Exemplos de gatilhos podem ser viagens de campo, palestra de um convidado, apresentação do tema em algum formato (vídeo, filme, texto, música etc). O objetivo do gatilho é incentivar o interesse e a curiosidade no tema.
O professor apresenta a questão orientadora, que incentiva as questões dos alunos que vão organizar o trabalho deles (como "o que sei sobre o assunto" ou "o que devemos fazer?")
É no lançamento que o professor também deve apresentar as diretrizes gerais do projeto, bem como o contexto do projeto (duração, calendário, envolvimento de outros professores etc).
O professor deve ajudar os alunos com a organização inicial do projeto (formação dos grupos, definição das normas, contrato de time, registros individuais, jornais de projeto e apoio nas pesquisa iniciais)
Preparação para o projeto
Etapa onde os alunos se preparam para executar o projeto, através de uma combinação de estratégias, como conteúdos e lições ofertadas pelo professor, pesquisa independente ou o contato/palestra com outros profissionais.
Ela tem uma duração variável, a depender da complexidade do projeto e do desenvolvimento da turma. Além disso, as equipes podem ter ritmos diferentes (algumas podem caminhar rápido para a próxima fase, outros demandam mais tempo nessa etapa).
O papel do professor é o de (1) ajudar os alunos a responderem às suas próprias perguntas, encontrando e utilizando recursos da forma mais autônoma possível, e (2) oferecer-lhes scaffolding (apoio estruturado) — incluindo instrução direta — quando necessário.
Execução do projeto
Os alunos devem criar e refinar seus produtos, desenvolver as respostas para a questão orientadora e se prepararem para apresentar o trabalho e tornar público ao menos um dos produtos.
Como a fase 3, ela pode ter uma duração variável e as equipes podem andar em ritmos diferentes. Além disso, os estudantes podem voltar para a fase anterior se entenderem que precisam de uma revisão do conteúdo ou ganhar mais contexto.
Finalização do projeto
Momento de encerramento do projeto, com apresentação do produto final, bem como a reflexão tanto do produto alcançado quanto do projeto como um todo e da metodologia.
O professor pode apoiar os estudantes a se prepararem para apresentar publicamente os resultados, ensinando técnicas de apresentações orais, se necessário.
Tente envolver os estudantes no planejamento do evento de apresentação e convide a audiência com antecedência.
Conduza uma apresentação-teste prévia com os alunos no mesmo espaço onde será o evento.
Se a apresentação envolver o uso de recursos tecnológicos, lembre de fazer uma checagem no dia do evento e tenha uma equipe de suporte presente durante as apresentações.
Após essa apresentação, puxe as esquipes para fazer uma reflexão e consolidação dos aprendizados antes de encerrar o projeto e partir para a próxima unidade ou projeto.
Tipos de projetos e de produtos
Agora que entendemos as etapas gerais da ABPj, podemos abordar brevemente os tipos de projetos e produtos finais que podemos utilizar nessa metodologia.
Tipos de projetos
Em linhas gerais, podemos ter os seguintes tipos de projetos (Larmer et al., 2015) - ou adotar uma mistura deles:
Resolvendo um problema real do mundo: os alunos investigam um problema real em sua escola, em sua comunidade, no mundo em geral ou um problema baseado em desafios enfrentados por profissionais de determinada área ou no mercado de trabalho. Eles podem construir uma proposta de solução ou ter que entregar a solução no mundo real. Os produtos desses projetos incluem propostas de produto e documentação similares, produtos tangíveis e apresentações orais. Ex. "A vida animal na região está caindo drasticamente".
Resolvendo um desafio de design: essa é uma definição abrangente para os projetos que apresentam um desafio de atender uma demanda específica, que pode incluir desde elaborar um projeto ou plano até construir algo de fato, ou também organizar uma apresentação ou evento. Esses projetos podem ser utilizados em diversas áreas, mas são mais encontradas em matemática, ciências, linguagens, educação física e artes. Ex.: "Construa um projeto para uma pista de skate na escola".
Explorando uma questão abstrata: nesse tipo de projeto, os alunos não se concentram em um problema ou produto concreto, mas sim em ideias e conceitos intangíveis. Esses projetos são mais comuns em disciplinas como língua portuguesa, estudos sociais/história e, às vezes, ciências ou artes. Ex. "O que acontece quando duas culturas interagem?"
Conduzindo uma investigação: esse tipo de projeto desafia os alunos a responderem perguntas que demandam investigação, coleta de dados e análise. É muito usado em história e ciências, podendo aparecer em matemática e outras matérias. Os produtos finais costumam ser relatórios, textos expositivos, mostras ou apresentações. O tema escolhido deve ser interessante e ter uma resposta complexa - daquelas que não se resolve com uma simples pesquisa no Google. Ex. "Como o aquecimento global pode afetar espécies nativas da região?"
Tomando um lado em um debate: nesse tipo de projeto, os alunos pesquisam temas polêmicos ou questionáveis, reúnem provas e desenvolvem argumentos. Esse formato é comum em matérias como história, ciências humanas e ciências naturais, mas pode ser adaptado para outras disciplinas, muitas vezes de maneira interdisciplinar. Como produtos finais, os estudantes podem elaborar textos, organizar debates, fazer exposições orais ou criar apresentações. Ex. "Devemos permitir as pesquisas cosméticas feitas com cobaias animais?"
Tipos de produtos
Há uma grande diversidade de produtos, que podem ser reunidos nas seguintes categorias (Larmer et al., 2015):
Apresentações: incluem qualquer tipo de performance ao vivo (apresentação oral, debate discurso, teatro etc);
Produtos escritos: incluem os entregáveis em formato textual (relatório de diversos tipos, blog, guia, revisão de livros etc);
Produtos tecnológicos e midiáticos: incluem mídias de diversos tipos (vídeo, website, pintura, podecast etc);
Produtos construídos: inclui qualquer coisa que é construída pelos estudantes (máquina, veículo, estrutura, invenção etc) - embora possa ser uma miniatura;
Produtos planejados: inclui vários tipos de propostas ou planos para construir coisas (propostas, planos de negócio, blueprints etc) - ocorre quando a construção é complexa demais e, em geral, envolveria a participação de profissionais habilidatos
Obs. Além dos produtos finais, diversos produtos podem ser entregues ao longo de todas as etapas do projeto e podem ser utilizados para avaliação.
Benefícios com a utilização da ABPj
Alguns benefícios com a implementação da ABPj são:
Engajamento dos alunos: a abordagem prática aumenta o interesse e a motivação.
Aprendizagem significativa: o conhecimento é construído de forma contextualizada.
Preparação para o futuro: prepara os estudantes para desafios profissionais e sociais.
Interdisciplinaridade: rompe barreiras entre disciplinas, promovendo uma visão integrada do saber.
Desenvolvimento de habilidades socioemocionais: trabalha competências como criatividade, pensamento crítico e colaboração.
A ABPj desenvolve nos estudantes as habilidades essenciais aos desafios do século XXI, como a habilidade na resolução de problemas, sentido de responsabilidade, trabalho em pares, pensamento crítico, autoconfiança, gerenciamento de tempo, transmissão de ideias e pensamentos por meio da comunicação com outras pessoas (Larmer et al., 2015)
Desafios na utilização da ABPj
Apesar dos benefícios, a ABPj também apresenta dificuldades, como:
Tempo demandado: exige mais tempo de planejamento e execução do que aulas expositivas.
Resistência à mudança: professores e alunos acostumados ao modelo tradicional podem estranhar a metodologia.
Recursos materiais: alguns projetos necessitam de materiais específicos, o que pode ser um obstáculo em escolas com pouca infraestrutura.
Avaliação subjetiva: como a aprendizagem é processual, a avaliação pode ser mais complexa do que provas padronizadas.
Gestão de grupos: trabalhar em equipe exige mediação constante para evitar conflitos ou desigualdade de participação.
A avaliação na ABPj
A avaliação na ABPj é um grande desafio, já que envolve um processo complexo de contrução, com múltiplos produtos e trabalho em equipe. Não há uma regra simples para avaliar na ABP, mas algumas dicas são:
Combine a avaliação com os alunos desde o lançamento do produto. É importante que eles entendam quando e como serão avaliados;
Utilize sistemas de avaliação que acompanhem todas as etapas do projeto, não somente o encerramento. As avaliações formativas, podem ajudar a oferecer feedback constante para ajustar rumos e melhorar o aprendizado;
Utilize critérios de avaliações que sejam baseadas em critérios reais, como criatividade, colaboração e solução de problemas;
Busque avaliar tanto os conteúdos aprendidos quando as competências (trabalho em equipe, comunicação, etc.).
Não dê uma nota única no projeto, ao invés disso distribua a nota entre as diferentes etapas do projeto e os diferentes produtos gerados;
Algumas estratégias de avaliação podem envolver rubricas (guias que estabelecem critérios claros de avaliação), autoavaliação, avaliação por pares, listas de verificação, entre outros. Cabe ao professor avaliar quais fazem sentido para o projeto em questão.
Para te ajudar na aplicação dessa metodologia, preparamos um modelo de planejamento de sala de aula invertida. Basta baixar o documento abaixo.
Referências:
Larmer et al., 2015. Setting the standard for Project Based Learning. ASCD, Alexandria.
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